domingo, 31 de janeiro de 2010

Você já se apaixonou sem correr riscos?


- Por que você está com essa cara, Beatriz, não tem motivo pra você estar triste. A garota tinha FURADA escrito com todas as letrinhas no meio da testa, e mesmo assim você insistiu! É obvio que não podia dar em coisa boa.

- Mas...

- Eu sei, você estava muito concentrada olhando pra todas as outras partes do corpo dela e esqueceu de olhar pra testa, certo?

- Na verdade eu estava olhando pra boca dela, depois pros olhos dela. Depois eu fechei os olhos... e não vi mais nada!

Esse diálogo lhe soa familiar? Já ouviu isso antes? Pois é, eu também. Antes eu achei que fosse uma característica pessoal, um ímpeto suicida de gostar apenas das mulheres mais complicadas. Depois de conversar com algumas amigas lésbicas, descobri que é um fenômeno tão comum que chega a ser quase unânime.

No dia seguinte, com a mesma amiga

- Bia, ela me ligou de novo!

- Quem, a jornalista gente boa que quer casar com você?

- Não, a minha ex!

- Ah, aquela que ferrou com a sua vida, colocou mil chifres na sua cabeça e mesmo assim você não esquece? Por que você atendeu?

- Pelo mesmo motivo que você está roendo pela bonitona... por que a gente só gosta de quem não gosta da gente.

-Ei! Não coloque a bonitona no meio da conversa assim. O fato de ela ser a mulher mais linda do mundo não tem (quase) nada a ver com isso. Eu já disse a você que não foi por isso que nós ficamos. Ela tem um quê de doçura peculiar, uma força pessoal de arrastar cidades, um jeito meio menina meio mulher...

- E o mero detalhe de não dar a mínima pra você!

- É, talvez eu não devesse ter fechado os olhos.

Por algum motivo desconhecido, o coração lésbico parece ser ainda mais burro do que os outros, superando-se a cada dia, ao se meter nas histórias mais sem-futuro – aquelas que a gente sabe que não dá certo, mas mesmo assim insiste!

No meu caso, descobri uma tendência a imaginar um caráter e uma personalidade para as pessoas, baseando-me apenas em algumas palavras ou atitudes, seja na maneira que a garota segura um copo, ou na forma como fala dos pais ou do trabalho.

O sentir sem conhecer me leva a cometer os erros mais primários, como baixar a guarda para uma loirinha que estuda medicina e planeja salvar o mundo, me encantar perdidamente por um par de olhos verdes que discute Sartre na balada, se emociona com uma ópera ou com um belo lírio de jardim.

A tal menina tem namorada? Tem 3Bi (bissexual, bipolar e biscate)? Não está pronta para ter um relacionamento sério? Pouco importa. Se ela é capaz de amar, se ela é capaz de sentir, se ela faz o meu coração bater mais forte, eu sou capaz de fechar os olhos.

- As palavras de ordem são preservação e prudência. Você já viu que não funciona, que se entregar aos sentimentos sem pensar nas conseqüências é a coisa mais idiota que se pode fazer. Por que dessa vez você não tenta variar só um pouquinho e pensar antes de sentir?

- Você já se apaixonou porque pensou que devia?

- Não.

- Já viveu um grande amor sem correr nenhum risco?

- ...

- Acho que temos a nossa resposta então.

E ao contrário do que manda a lógica, e ao contrário do que pede a razão, o meu coração cultua com orgulho cada cicatriz, cada ferida, cada queda. E a única coisa que ele pede em troca é nunca perder o prazer de sentir, dor, amor ou frustração, da forma mais intensa e profunda possível.

Para os corações que amam a lógica, minha mais profunda referência. O meu coração é, sempre foi, e sempre será, um eterno sem-razão.

FONTE: BOLACHA ILUSTRADA...

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